quinta-feira, 19 de julho de 2012

Imigração Italiana e o Bairro Lagoinha!


Lagoinha com Praça Vaz de Mello e Rua Itapecerica - 1928

1928praçavazitapecrica
Universidade Federal de Minas Gerais; Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas; Programa de Pós-Graduação em História; Tese intitulada Vastos Subúrbio da Nova Capital: formação do espaço urbano na primeira periferia de Belo Horizonte, de autoria do doutorando Tito Flávio Rodrigues de Aguiar.

A análise dos números concernentes à chegada de imigrantes em Minas Gerais permite deduzir que, quando da construção de Belo Horizonte, houve maciço fluxo de estrangeiros para essa região do Estado. Conforme Barreto (1996), por iniciativa estatal, o Serviço de Imigração Estadual fomentou, entre 1888 e 1898, a vinda de mais de 68 mil imigrantes, com predominância de italianos. Em 1896, por exemplo, ápice das obras de construção da capital, registrou-se a fixação de mais de 22.400 imigrantes no Estado. Depois da Zona da Mata, a região que mais atraía imigrantes era a do Curral Del Rey. Com efeito, as facilidades e comodidades oferecidas aos estrangeiros nessa época advinham da necessidade urgente de mão-de-obra especializada na construção civil. Na lista organizada por Barreto (1996) com os sobrenomes dos funcionários para os quais foram construídas casas na nova capital, grande parte era de origem luso-brasileira. Um ou outro denunciava origem francesa (Francisco Amedée Peret) ou alemã (Cornélio Rosemburg). Porém, entre os proprietários de casa particulares em Belo Horizonte no período, a maioria tem sobrenome estrangeiro, predominando os italianos. Quando a cidade começou a ser efetivamente construída, os trabalhos requisitavam um batalhão de braços…………………………………
No Bairro Lagoinha existiu um importante exemplar da participação italiana na arquitetura de Belo Horizonte. Conforme Noronha (2001), a Casa da Loba foi construída na década de 1920 por Octaviano Lapertosa para João Abramo, o proprietário. Hoje nada restou da belíssima residência em estilo neoclássico italiano, somente fotografias. Outra ilustração é a bem preservada casa da família Falci, à Avenida Bias Fortes, 197. Em estilo neoclássico com elementos renascentistas, o suntuoso palacete é preservado porque a família é consciente da sua importância e dos significados simbólicos em torno do seu patriarca…………………………..
Referência: Trechos transcrito do documento " A influência italiana na arquitetura de Belo Horizonte" de Marcel de Almeida Freitas.
Curiosidades retiradas do Trabalho de Dissertação IMPRENSA ITALIANA EM TERRA ESTRANGEIRA:(BELO HORIZONTE 1900-1920) de Geralda Nelma Costa - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Belo Horizonte - 2005
Pagina 17. São eles: O Operario, Un Fiore, Il Martello, La Voce del Cuore, L’Eco del Popolo, Roma e Fieramosca. Esses títulos, como a maioria dos jornais editados em Belo Horizonte no período, tiveram vida curta e uma tiragem modesta. A única exceção fica por conta do jornal Fieramosca, jornal bissemanário, que cobriu o período de 1916 a 1921. Segundo Linhares, uma façanha digna de menção especial.
Página 42. A presença dessa voz selou a diferença do L’Eco Del Popolo em relação ao socialismo reformista que conformou a prática discursiva de O Operario. Nesse último, o nacionalismo italiano não se apresentou como elemento definidor da organização da Liga Operária, o que teria sido um contra-senso, uma vez que o que se tentou foi arregimentar os trabalhadores de qualquer nacionalidade, residentes em Belo Horizonte, como foi afirmado no Projeto de Estatutos da Liga publicado em O Operario. Situação diferente encontramos no L’Eco del Popolo que, desde o seu “programa”, afirmava também o nacionalismo de sua orientação e a conseqüente defesa dos interesses italianos no estado. Respondendo à influência desse segundo supradestinatário, a utilização do idioma italiano na redação do jornal se torna um elemento importante da “intenção discursiva” desenvolvida.A utilização da língua italiana era vista como um importante elemento para a tentativa de união entre imigrantes italianos com diferenças culturais entre si e que falavam dialetos regionais.
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Pagina 78. As festas religiosas foram, juntamente com outras práticas sociais, um mediador entre essas diferenças culturais entre italianos entre si, entre brasileiros entre si, e entre brasileiros e italianos Era um momento de troca, de fortalecer sentimentos de amizade, solidariedade entre os grupos. Muitas vezes, essas festas propiciavam trocas culturais entre brasileiros e italianos nas quais ambos experienciavam diferenças nas formas de comemorar, por exemplo, a festa de um santo católico. Eram músicas novas, comidas diferentes, brincadeiras desconhecidas, que eram aprendidas e, possivelmente, assimiladas. Nesses momentos, elementos do cotidiano desses grupos étnicos eram confrontados e, em alguma medida, tornados híbridos. As festas religiosas fazendo parte da vida cotidiana dos habitantes de Belo Horizonte, tanto brasileiros quanto italianos não deixaram de figurar nas páginas dos jornais. Assim, encontramos no L’Eco del Popolo uma nota informando, na seção “crônica citadina”, que os habitantes do “Alto da Floresta” pretendiam, como de costume, comemorar o dia de S. João com uma festa. A nota era um convite à participação: “quem teve ocasião de desfrutar nos anos passados, da festa em honra deste santo, certamente não deixara de visitar nos dia 23
e 24 aquele populoso e agradabilíssimo bairro (…)” (L’Eco del Popolo,Belo Horizonte, p.2, 20 jun.1905).
Página 85. No número seguinte do jornal, curiosamente, encontramos uma nota em que uma autoridade policial se justificava com relação ao episódio do jogo de bola. A nota apresentava a versão do sr. Malta, inspetor de polícia atuante na Lagoinha. Ele afirmava que o jornal estava mal informado sobre os acontecimentos. Dizia que não houve prisão dos jogadores de bola, mas sim de um tal de Nazareno “por resistência à autoridade” e que outras duas pessoas foram levadas até a Delegacia, para servirem de testemunhas. O jornal deu a conhecer a versão da autoridade policial, mas não se absteve de apresentar a sua visão do que normalmente acontecia envolvendo a polícia e as camadas populares:
(…) é facto indubitável que a policia abre muito um olho sobre os jogadores de bolas e outros jogos populares e fecha outro sobre os jogadores do highlife. Que diabo! Um olho aberto e outro fechado não embeleza muito a cara policial (O Operario, Belo Horizonte, p.2, 2 set. 1900).
Para os redatores do jornal era mais do que notória a relação conflituosa e desigual que envolvia os órgãos repressivos do Estado e a população mais pobre da capital, que incluía um grande número de italianos.

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